Quando uma professora de Filosofia nascida e criada em Brasília se muda para o interior do de São Paulo se vê em uma realidade completamente diferente da qual vivia no Distrito Federal. Ao se mudar para Bauru ela encontra grandes problemas sociais em sua nova escola como o uso de drogas, álcool, práticas de bullying, racismo, falta de motivação dos alunos, a ignorância politica, a falta de segurança no transito e até mesmo a depressão. Esses e outros problemas que assolam os jovens estudantes do séc. 21. Então é por meio das aulas e do uso de textos jornalísticos que esta professora consegue transformar a realidade social de sua sala e influenciar positivamente toda comunidade bauruense.
Seis cadeiras de classe encapadas com jornal postas em dois grupos de três, de frente ao palco de forma que se assemelhe a uma sala de aula, no fundo uma mesa de professor com seus respectivos objetos, como régua, caderno, apagador, giz de lousa, caderneta de chamada entre outros objetos cênicos.
Criar uma dramatização que se confunde com a realidade, sem conflitos definidos, com questões em aberto. Criar uma interação entre o público e os atores, em uma espécie de teatro de arena, com atores coringas. Algo bem contemporâneo.
Zé Pedro – Aluno problemático que acaba fazendo escolhas erradas após sofrer rejeição em sua sala de aula.
Maria Eduarda – A melhor aluna em relação às notas, a preferida dos professores, mas odiada pelos alunos, pois é uma menina má.
Otavio – Aluno dedicado que ainda não sabe ler corretamente.
Guilherme – Aluno que só dorme, não porque é folgado e sim porque tem que trabalhar muito.
Braian – O melhor aluno da classe, o mais esforçado e o mais bondoso da classe.
Ricardo – vive no celular, sem interesse nenhum com a escola e os estudos.
BAURU VAI TER QUE PARAR NA FAIXA
CENA I
Emanuela
(Sala de aula, Seis cadeiras de classe encapadas com jornal postas em dois grupos de três, de frente ao palco, no fundo uma mesa de professor)
EMANUELA: (Está sentada em sua mesa lendo o Jornal da Cidade). Mas que absurdo! Aqui na manchete diz assim: “Agora Bauru vai ter que parar na faixa” Eu estou chocada... (Se levanta e fala diretamente ao público). Vocês leram isso? (Volta à personagem). Não isso não é possível! (suspira, pequena pausa). Em Brasília. Eu nunca leria uma coisa dessas no jornal, basta apenas levantar a mão e os carros param e os pedestres passam, os motoristas são mais conscientes... Me espanta essa nova cidade, eu cheguei a pouco tempo mas me contaram que está é uma cidade roubada! (Se senta em uma das cadeiras dos alunos, cruza as pernas). É verdade! Bauru era dos índios... Mas eu não vou contar essa história. (Levanta o dedo indicador para o alto e coloca a mão sobre o queixo). O prefeito de Espirito Santo da Fortaleza estava de olho nessas terras e em um ato desesperado chegou à câmara mais cedo, mudou os horários do relógio, iniciando assim um novo fuso horário para a cidade e sem avisar ninguém, abriu a sessão de votação para está mudança de região duas horas mais cedo do que o previsto, e com apenas um voto mudou a cidade de lugar! “Vamos para Bauru!”. Justificou. Infelizmente esse plano foi sucedido. (Se levanta). Mas quem sou eu para querer mudar a história de uma cidade que me vê no fundo apenas como uma forasteira... Mas eu não estou roubando o emprego de ninguém! Eu sou concursada e mereci está vaga! (Olha para o relógio). Bom está quase na hora... (pausa respira fundo e se senta em sua mesa, coloca as mãos no rosto). Vai dar tudo certo! Emanuela os alunos vão adorar as aulas de Filosofia, vão prestar atenção e eu vou conseguir dar minha aula! (Sussurro) É isso ai! Vai dar certo! (Arruma o cabelo, sua postura bate os dentes, olha no relógio). Bom vai dar tempo de ir tomar um ar! (Sai de cena).
FIM DA CENA I
CENA II
Maria Eduarda, Zé Pedro, Otavio, Guilherme, Braian, e Ricardo
(Sala de aula, Seis cadeiras de classe encapadas com jornal postas em dois grupos de três, de frente ao palco, no fundo uma mesa de professor)
GUILHERME: (Anda em direção ao palco, como se o caminho até a sala de aula fosse uma rua, ao chegar à sala se senta em sua cadeira e acaba dormindo).
MARIA EDUARDA: (Anda em direção ao palco)
BRAIN: (Apenas a voz). Me espera Maria Eduarda! Eu vou com você!
MARIA EDURDA: (Se vira em direção à voz e grita). Vê se me deixa em paz! (sobe ao palco, acorda Guilherme). Guilherme! Guilherme! (Guilherme acorda). Você estudou para a prova de matemática?
GUILHERME: (Espanto). Prova de matemática?
MARIA EDUARDA: É... Aquela que vai ser muito difícil! Ela está marcada para hoje... Nossa você está tão calmo... Eu estou muito nervosa com o teste!
GUILHERME: (Desesperado abre o caderno e começa a estudar).
MARIA EDUARDA: (Da uma risadinha e começa a lixar suas unhas).
BRAIAN: (Anda em direção ao palco, cumprimenta Guilherme e vai em direção a Maria Eduarda). Oi... Tudo bem?
MARIA EDUARDA: (Com desdém). Você pode me fazer um favor?
BRAIAN: Mais é claro que posso!
MARIA EDUARDA: Você pode ir pra trás?
BRAIN: (Segue o pedido). Assim?
MARIA EDUARDA: Isso! Só que mais um pouco...
BRAIAN: (Obedece sem intender). Assim tá bom?
MARIA EDUARDA: (Feliz, termina de lixar as unhas). Está ótimo! Obrigada! Você estava fazendo uma sombra horrível!
RICARDO: (Entra pela coxia com fones de ouvido está dançando e digitando no celular, senta em sua cadeira e não cumprimenta ninguém).
OTAVIO: (Entra em cena pela coxia com um livro na mão). Bom dia pessoal! (Todos retribuem e ele se senta abre o livro e folheia-o em sua cadeira)
MARIA EDURDA: (Irônica). Que legal já aprendeu a ler... (dando risada). Parabéns atrasado!
ZÉ PEDRO: (Da plateia da um grito bem alto): Atrasada é a vaca que te pariu! (Entra no palco). Eu mesmo vou ensinar o Otavio a ler! Como vocês podem deixar ela falar assim com ele?
RICARDO: (Está dançando na cadeira nem sabe o que está acontecendo). Concordo com o Zé Pedro é vaca mesmo, só apronta com a gente!
BRIAN: É só uma brincadeira Zé... Não é mesmo Otavio?
OTAVIO: (Com muita dificuldade de se expressar). Tá tudo bem Zé deixa pra lá...
MARIA EDUARDA: Você ouviu! Aliás, nem preciso lembrar você que só pode entrar na sala porque acabou sua suspensão por mau comportamento...
ZÉ PEDRO: (Se senta e ignora a provocação de Maria Eduarda). Porque você está estudando matemática?
GUILHERME: (Assustado). Você não tá sabendo, vai ter prova hoje!
RICARDO: (Para de dançar e grita) Prova?
OTAVIO: A prova é semana que vem.
MARIA EDUARDA: (Da uma risadinha). Ai Guilherme eu confundi, que boba fui...
BRAIAN: Pelo menos você deu uma estudada isso é bom.
GUILHERME: (Cansado). Nossa eu estou morrendo de sono... Isso foi péssimo! Se eu dormir na aula é culpa sua Maria Eduarda!
MARIA EDUARDA: Eu não tenho culpa se você fica a noite inteira acordado... Deixa Braian, isso é ingratidão mesmo.
ZÉ PEDRO: Nossa garota qual é o seu problema? Se faz de boa aluna, mais é pior que o capeta!
MARIA EDUARDA: (Brava). Eu não me faço. Eu sou a melhor desta sala e de toda a escola! Não tenho culpa se sou a mais esperta! Veja você tem as piores médias da sala, é bonzinho com todos e onde estava de suspensão por mau comportamento.
BRAIAN: (Se levanta e vai para perto da coxia). Já chega vocês dois a professora está vindo...
RICARDO: (Tira o fone de ouvido, e agora fica digitando no celular). É aula do que?
OTAVIO: Não sei... Os horários ainda não foram definidos.
BRAIAN: (Vem correndo sentar na cadeira). É uma professora nova, quer dizer ela parece ter sessenta anos, mas nunca deu aula pra nós antes. (Todos ficam sérios).
FIM DA CENA II
CENA III
Emanuela, Maria Eduarda, Zé Pedro, Otavio, Guilherme, Braian, e Ricardo
(Sala de aula, todos os alunos sentados)
EMANUELA: (Com um giz no meio dos dedos, como se segurasse um cigarro e passando a mão sobre o cabelo despenteado diz). Eu peço mil desculpas pelo meu atraso eu sou nova e estava dando aula na sala errada.
BRAIAN: Como à senhora chama?
EMANUELA: Bem lembrado! Eu me chamo Emanuela, eu sou a nova professora de filosofia de vocês e... Eu vim de Brasília e agora eu estou aqui. (Olha para o relógio). Nossa perdemos mais de quinze minutos... Vocês tem noção de que esse tempo não volta mais? Eu vi a lista de chamada e prometo gravar o nome de todos! (Os alunos ficam quietos). Bom alguém aqui sabe o que significa a palavra “Filosofia”?
MARIA EDUARDA: (Levanta a mão). Eu sei professora! É amor ao saber.
EMANUELA: Muito bem! “Filo” significa sabedoria e “Sofia” Amor, então temos amor à sabedoria. E algum de vocês sabe a onde encontramos a filosofia?
GUILHERME: (Está quase dormindo). Eu amo a filosofia... (Cai no sono).
OTAVIO: Professora a filosofia está em todos os lugares?
EMANUELA: (Dando um meio giro em torno de si mesma diz). De certo modo sim...
RICARDO: Nossa filosofia é chata! No meu celular, no meu computador ela não está!
ZÉ PEDRO: Com todo o respeito à senhora é doida... Filosofia só está nos livros!
EMANUELA: (Para e faz uma careta). Eu doida? Nessa cidade eu levantei a mão na faixa e quase fui atropelada...
ZÉ PEDRO: Eu não disse... Doidinha. (Otavio, Braian e Ricardo dão risada).
MARIA EDUARDA: Tá vendo professora, esse Zé Pedro não tem jeito...
ZÉ PEDRO: Já Começou a perseguição...
EMANUELA: Calma que no final do ano letivo vocês poderão falar tudo o que pensam sobre mim... Eu prometo ouvir tudo. Agora eu queria saber quais são os maiores problemas que vocês sofrem nesta escola?
OTAVIO: Nossa professora... São tantos.
EMANUELA: Pois bem. Alguém se habilita a dizer um? (Braian se levanta e ela se senta em sua cadeira). Bom agora eu sou a aluna e você é o professor!
ZÉ PEDRO: Pau mandado da Maria Eduarda...
BRAIAN: (Com a postura de um professor). Silêncio classe! (Todos fazem silêncio). O maior problema nas aulas se encontram na própria sala de aula, nós, todos os dias sentamos e copiamos a matéria, eu sinto que falta liberdade, faltam passeios, dinâmicas novas. (Se senta na cadeira, todos trocam de lugares, no sentido horário toda vez que trocam os alunos, quem levanta agora para assumir o papel do professor é Ricardo).
RICARDO: Meu a escola parou no tempo! Por exemplo... Eu posso aprender usando o meu celular, ouvindo minhas músicas em inglês, eu não sou um vagabundo porque me sinto morto em uma sala de aula que só tem o giz e a lousa como meios de aprendizado. Em casa no meu computador se perco a internet em cinco segundos já sinto vontade de destruir tudo e fugir pra onde tem Wifi... (Ele com pressa se senta. Otavio se levanta para falar com seu livro na mão).
OTAVIO: Eu... Eu... Tenho muita dificuldade em ler! A escola não me ajuda, nenhum professor disse ao meu pai isso, e eu morro de vergonha de contar, peço ajuda e acredito que sou ignorado, as aulas com o projetor e nos laboratórios são as únicas que me atingem! Mas o professor parece ter que provar a burocracia da direção que ele realmente vai dar aula usando essas tecnologias... A gente perde muito tempo com isso! (Ele se senta e quem fala agora no lugar do professor é Guilherme).
GUILHERME: A incapacidade do grêmio estudantil! Ganham sempre os mais populares e não os com melhores propostas, a escola não é unida! “Não existe amor em SP” professora... (Se senta e quem se levanta é Maria Eduarda).
MARIA EDUARDA: (Anda de um lado para o outro, vai à mesa e paga a régua da professora como se fosse um cassetete). Ordem é progresso! A escola funciona quem não funciona são vocês! Se todos fossem como Maria Eduarda é, a melhor aluna da escola, a que não tem problemas em casa e muito menos na escola! A menina perfeita. Que sabe que os cortes na educação são precisos! Nos dois sentidos da palavra, a que não permitiria a democracia na sala! (Grita). Saia da sala! Acorde! Você já deveria ter aprendido isso! Eu vou passar muitos textos! Guarda esse celular! Essas seriam frases milhões de vezes repetidas, se eu fosse à professora... (Zé Pedro se levanta os dois trocam olhares de ódio e Maria Eduarda se senta).
ZÉ PEDRO: (Indignado). Eu não aguento essa falta de respeito que é geral, as drogas, o álcool, o bullying, o racismo, os alunos que tem depressão... Muitas vezes palavras duras os levam para estes caminhos tortuosos! Se eu fosse o professor, sofreria junto dos alunos e não faria os sofrer. Eu sei que não sou o melhor aluno e que também não seria o melhor dos professores... Mas eu mudaria muita coisa. Me revolta ver tantas injustiças... Talvez seja por isso que eu seja um péssimo aluno... (Para um pouco para pensar). Eu nem sempre fui assim. (Todos menos Zé Pedro falam em coro).
TODOS: Mais você é! Bem vindo ao inferno! Aqui as paredes tem ouvido! Mas paredes apenas ouvem! Tente mudar isso e será mal visto! A ordem funciona, e não permite mudanças! (Todos começar a correr no palco é uma verdadeira desordem, Emanuela tenta colocar ondem como se fosse outra aula, como se tivesse passado mais de uma semana de aula).
EMANUELA: Classe! Por favor, eu já cheguei! (Todos os alunos se sentam). Hoje eu trouxe jornais para a aula e todos vão ler! Inclusive você Otavio, e não sinta vergonha estamos aqui para aprender! Ouviram classe! (É distribuído a todos os alunos um Jornal da Cidade). Parece que nós só tomamos como verdade aquilo que aceitamos para nós. Dito isto quero que levantem a mão os que são racistas. (Nenhum dos alunos levanta a mão). Alguém aqui conhece alguém que seja racista? (Todos os alunos levantam a mão). Parece que vivemos em uma ilha de igualdade racial... Não? Não sejam racistas!
GUILHERME: Professora o Brasil não é uma ilha...
MARIA EDUARDA: É uma ironia!
ZÉ PEDRO: O que vamos fazer com o jornal professora?
EMANUELA: Vamos Ler! (Todos abrem o jornal e dizem em coro).
TODOS: “Bauruenses vão às ruas para protestar contra governo e caminhar pela saúde”
MARIA EDUARDA: (Se levanta da cadeira). Prendam todos os políticos! Volte a Ditatura Militar! (Senta-se e todos os alunos conversam sobre a frase dela até que Zé Pedro se levanta e fala, todos fazem silêncio).
ZÉ PEDRO: (Se levanta de sua cadeira e lê no Jornal). “A inclusão da defesa de Luiz Inácio Lula da Silva e de Dilma Rousseff na pauta do ato pelo Dia Internacional da mulher, no vão-livre do Masp, provocou brigas entre os participantes. As agressões começaram depois que integrante do PSTU disse, ao microfone”...
TODOS: (Se levantam e como em uma passeata dizem em couro). “Fora Dilma, fora Temer, fora Aécio, fora Cunha, fora Renan, fora Alckmin”.
EMANUELA: (Os alunos congelam, menos Otavio que esta com medo). Otavio? Qual é a sua opinião sobre essa quase guerra civil dentro da sala de aula?
OTAVIO: (Com muito medo). Nunca ninguém tinha me feito pensar sobre isso...
EMANUELA: Em Brasília os meus alunos sempre tinham esse olhar critico sobre politica leia para a nós um breve resumo! Classe! Prestem atenção! (Os alunos descongelam e sentam quietos para ouvir Otavio).
OTAVIO: (Se senta, respira fundo e começa a ler com dificuldade). “Governo teme perder apoio e apressa rito de impeachment, o agravamento da crise politica aumentou a
instabilidade da base aliada e levou o planalto a rever sua estratégia. O governo agora pede pressa na votação do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff no Congresso. O ministro da Secretaria de Governo, Ricardo Berzoini, disse que o processo virou um cadáver insepulto. Sobe o argumento de que o País não pode ficar paralisado por causa de uma ação politica sem desfecho, ele argumentou que o governo não manobrará para impedir a votação”.
TODOS: (Em coro dizem). Leia mais na pagina seis.
EMANUELA: Agora vocês percebem que a politica é apenas um jogo de interesses velados? (Silêncio, os alunos têm questionamentos internos). Próximo assunto!
TODOS: (Em coro). “Quando Bauru vai parar na faixa?”.
BRAIAN: (Está lendo o jornal). “Há muito tempo escrevo para esta coluna falando sobre o desrespeito à faixa de pedestres não só pelos motoristas como também pelos próprios pedestres, citando até o exemplo de outras cidades onde este respeito é exemplar”.
EMANUELA: Eu não falei! (Braian para de ler para ouvir Emanuela). Em Brasília todos param na faixa! Mas prossiga!
BRAIAN: (Continua a ler). “Já havia desistido de escrever sobre este assunto, mas meses atrás li neste jornal (Todos mostram a capa do jornal da cidade). Que a Emdurb pensava em elevar a faixa de pedestres para dar maior visibilidade. Isto só traria transtornos ao trânsito e despesas adicionais”.
ZÉ PEDRO: (com ironia) O dinheiro está sobrando... Só pode! (Todos congelam menos Guilherme a Emanuela).
GUILHERME: Sabe professora, é um desafio chegar a escola, os motoristas não respeitam o “pare” e nem as “faixas de pedestre”. Eu já vi pararem para o gato passar e acelerarem quando são estudantes... A escola deveria falar mais sobre isso!
EMANUELA: Classe! (Todos descongelam). Agora entendem a importância da conscientização e do respeito no trânsito? Acho que todos assim como eu já perderam amigos neste trânsito... Eu perdi meu filho faz onze anos amanhã... Ele teria a idade de vocês agora...
TODOS: (Em coro com tristeza). Seremos mais conscientes professora!
EMANUELA: Eu sei que serão! O próximo assunto eu vou ler! (Coloca os óculos e abre o jornal). “Ritual de instituto xamânico usa chá do Santo Daime”
RICARDO: Eu já tomei! (Todos afastam as cadeiras de Ricardo e o olham assustados). Não é nada de mais! É ligado a religião e é pesquisado para uso terapêutico em casos de depressão...
OTAVIO: Eu tive um amigo que tomava ele quase morreu atropelado...
EMANUELA: Eu quis tocar nesse assunto justamente para mostra a vocês que além de existirem religiões diferentes com costumes diferentes como as xamânicas, também têm pessoas que buscam nas drogas, sejam elas licitas ou ilícitas uma fuga da realidade...
MARIA EDUARDA: A senhora está dizendo então que as drogas são boas?
BRAIAN: (Toma coragem e diz). Pelo contrario Maria Eduarda! Ela está mostrando a pluralidade e problematizando o jovem usuário, que sim! Muitas vezes encontra nas drogas um caminho de paz!
ZÈ PEDRO: Todo mundo sabe que as drogas fazem mal, mas muitos usam, pois suas realidades são horríveis e até mesmo amigos que indicam... Tem essa questão de ser popular.
GUILHERME: Cada um busca apoio no que tem! Seja na religião, na música, no estudo ou nas drogas, eu como católico que sou sempre tento criar pontes e não construir muros! Pelo menos eu tento, não saio às ruas sendo um herói, mas minha igreja e a comunidade sempre se mobilizam em prol desses coitados vitimas das drogas...
MARIA EDUARDA: (Faz uma careta, mas acaba aceitando). Eu acho que entendi... Também não sou um monstro... Eu vejo direto na escola e nas ruas usuários... Acaba sendo mais fácil ignora-los. Eu já perdi amigos para as drogas...
ZÉ PEDRO: Nossa... Você já teve amigos?
MARIA EDUARDA: Professora!
BRAIAN: Ele não falou por mal...
MARIA EDUARDA: Me deixa Braian. (Grita). Professora!
EMANUELA: Pois não?
MARIA EDUARDA: Eu gostaria de ler agora!
EMANUELA: Fique a vontade!
MARIA EDUARDA: Obrigado professora. (Abre o jornal e busca a matéria). “Lei que cria programa de combate ao bullying começa a valer esta semana”. (Todos menos Maria Eduarda falam em coro).
TODOS: Você pratica bullying com todos nós!
MARIA EDUARDA: “A partir desta semana, escolas, clubes e agremiações recreativas em todo o país deverão desenvolver medidas de conscientização, prevenção e combate ao bullying. A lei que institui o chamado Programa de Combate à Intimidação Sistemática foi sancionada em novembro passado e prevê a realização de campanhas educativas, além de orientação e assistência psicológica, social e jurídica às vítimas e aos agressores”.
TODOS: Nunca se cansa de nos machucar...
MARIA EDUARDA: (Sente muito triste e com vergonha, passa a mão em seus olhos). “O texto estabelece que os objetivos propostos pelo programa poderão ser usados para fundamentar ações do Ministério da Educação, das secretarias estaduais e municipais de educação e também de outros órgãos aos quais a matéria diz respeito.
TODOS: A gente já esta cansado dos seus insultos e maus tratos!
MARIA EDUARDA: (Nervosa). “Entre as ações previstas está a capacitação de docentes e equipes pedagógicas para a implementação das ações de discussão, prevenção, orientação e solução do problema. Ainda de acordo com a legislação, a punição aos agressores, em casos de bullying, deve ser evitada, tanto quanto possível, “privilegiando mecanismos e instrumentos alternativos que promovam a efetiva responsabilização e a mudança de comportamento hostil”.
TODOS: Quando é que você vai mudar?
MARIA EDUARDA: (Lê chorando). “O texto caracteriza o bullying como todo ato de violência física ou psicológica, intencional e repetitivo, que ocorre sem motivação evidente, praticado por indivíduo ou grupo, contra uma ou mais pessoas, com o objetivo de intimidá-la ou agredi-la, causando dor e angústia à vítima em uma relação de desequilíbrio de poder entre as partes envolvidas”.
EMANUELA: Porque você está chorando? (Todos os alunos olham para Maria Eduarda que se recompõe).
MARIA EDUARDA: Na outra escola, eu sofria muito! Tinha poucos amigos, que assim como eu sofriam bullying diariamente... Eu sofri tanto que quando vim para essa escola me tornei o que mais odiava... Eu tive medo de ser gentil e todos me ridicularizassem como era na antiga escola, depois de um tempo acabei gostando de ser má, mas eu não quero mais ser assim! (Todos se chocam com o a fala de Maria Eduarda).
OTAVIO: “Quando a educação não é libertadora o sonho do oprimido é ser o opressor”. Já dizia Paulo Freire...
ZÉ PEDRO: Você sempre arrumou confusão com todos, Ninguém da sala te maltrataria...
GUILHERME: Apesar de tudo...
RICARDO: Bem no fundo...
BRAIAN: Nós sempre fomos seus amigos...
EMANUELA: Isso é lindo! Estamos quebrando barreiras! Esse é o maior objetivo da minha aula, mostrar a vocês que a educação pode mudar realidades sociais! (Todos abraçam Emanuela, toca o sinal do intervalo e todos os alunos saem de cena).
FIM DA CENA III
EMANUELA: (Em sua mente passa um filme, o público tem que intender que você está de volta ao passado, quando era uma simples aluna). É como se eu tivesse voltado no tempo... Reparando bem essa sala é muito parecida com a escola onde eu estudei na minha infância... Eu consigo lembrar aquele cheirinho da merenda, da sopa de fubá e do macarrãozinho de Ave Maria com aquela carne de proteína de soja que na época a gente chamava de carne de isopor, mas que era uma delicia! Fazia aquela fila enorme só para comermos a comida da Tia Nastácia, eu era feliz e não sabia aquela sopa eu nunca mais comi igual... E olha que eu já tentei fazer milhões de vezes, mas nunca cheguei naquele sabor! Que saudade eu tenho das aulas da Dona Ermínia que dava aula de tudo! Mas que era mestre no português eu conheci os grandes pensadores nas aulas de literatura que ela dava com tanta paixão... Lembro das aulas de física do Seu Horácio e quando a gente estava vendo uma cebola no lente do microscópio ele me perguntou o que eu queria ser quando crescesse e eu disse: “Eu quero ser como o senhor, eu quero ensinar eu quero ser professora”. Eu lembro que ele se emocionou, mas como tinha quase dois metros de altura ele era um armário de homem e escondeu as lagrimas, mas eu vi aquele momento eu tinha tocado o seu coração e eu me apaixonei por isso. Eu me formei e a Ditadura me prendeu por lecionar filosofia! Isso me rendeu grandes indenizações nos dias de hoje! O que eu mais senti falta nos anos de chumbo foram os jornais e a sua liberdade de informação que eles tinham! É por isso que eu os uso tanto nas aulas, porque além de serem a tecnologia do meu tempo, permite que saibamos sobre o mundo! Eu me orgulho de ser professora! (Ela se levanta e pega o jornal, senta cruza suas pernas e diz). Eu gosto muito deste poema... Chama-se “Assembleia Internacional do Medo” é de Carlos Drummond Andrade ele diz assim: “Provisoriamente não cantaremos o amor, que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos. Cantaremos o medo, que esteriliza os abraços, não cantaremos o ódio, porque este não existe, existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro, o medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos, o medo dos soldados, o medo das mães, o medo das igrejas, cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas, cantaremos o medo da morte e o medo de depois da morte. Depois morreremos de medo e sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas e medrosas”
EMANUELA: Todos nós temos problemas, o que nos faz diferentes é como lidamos com eles, Eu por exemplo. (Espaço aberto para que a atriz diga um problema que teve e a forma como o enfrentou).
MARIA EDUARDA: Na peça minha personagem se vê refém do bullying e acaba inconscientemente passando para frente este ato de maldade. Na vida real eu. (Espaço aberto para que a atriz diga um problema que teve e a forma como o enfrentou).
RICARDO: No dia a dia em sala de aula é comum termos alunos iguais a minha personagem o Ricardo, que só quer viver no mundo virtual... Coisa que é bem diferente que quem eu sou... (Espaço aberto para que o ator diga um problema que teve e a forma como o enfrentou).
OTAVIO: É um desafio conviver, trabalhar e aprender com tantos alunos de diferentes culturas e níveis. Minha personagem enfrenta problemas com a alfabetização, o que é uma realidade não só nas escolas públicas de Bauru, mas nas de todo o Brasil! Muito melhorou, mas muito ainda precisa ser feito! (Espaço aberto para que o ator diga um problema que teve e a forma como o enfrentou).
GUILHERME: Nós sabemos que muitos alunos trabalham no período contrario ao das aulas, e que esse ato muitas vezes influencia negativamente no aprendizado, o que contribui com o estresse e até mesmo problemas de aprendizagem. (Espaço aberto para que o ator diga um problema que teve e a forma como o enfrentou).
BRAIAN: Nesta peça minha personagem nutria uma admiração muito grande por outra personagem que por praticar bullying não era muito querida, isso é uma realidade, às vezes gostamos tanto de alguém que permitimos seus maus tratos. (Espaço aberto para que o ator diga um problema que teve e a forma como o enfrentou).
ZÉ PEDRO: Às vezes sofremos varias injustiças... E se não conseguimos prova-las o uso de meios torpes para se chegar à justiça pode nos fazer pior que próprio mal feitor. Esse foi o conflito da minha personagem ela era mal vista, mas na verdade não era amiga do dialogo e sim da violência. Eu sou diferente. (Todos saem de cena, menos a professora Emanuela que sentada em uma das cadeiras se recorda de seu filho, um músico entra e os dois começam a cantar, depois todos os alunos entram e cantam junto de sua professora).